Uma visão alternativa do mundo

A nossa tarefa fundamental consiste em articular não só um conjunto alternativo de propostas políticas, mas também propor uma visão alternativa do mundo, capaz de se substituir àquela que está na origem da crise ecológica. Uma visão que assente na interdependência em vez do individualismo, na reciprocidade em vez da dominação, na cooperação em vez da hierarquia.

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História de um menino que nasceu dentro de um livro

Fechou o livro que estava a ler.

Não que não lhe apetecesse continuar a lê-lo, antes pelo contrário, quando gostava muito de um livro, ela fechava-o de quando em vez e ficava quietinha. Era como se as palavras que acabara de ler fossem como chuva miúda que se vai entranhando lentamente no corpo, refrescando-o.

Ela sempre fora apreciadora de chuva de palavras, daquelas palavras que ficam horas, dias e mesmo para sempre, a bailar cá dentro.

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Os dois lados do mundo

A Escola da Cabeça d’Águia era uma casa com uma porta, duas janelas e mais nada. No primeiro dia em que me levaram até lá, fiquei feliz porque ia encontrar crianças da minha idade. Elas lá estavam, divertidas, barulhentas, grandes olhos, faces magras. Também era a primeira vez que me colocavam na mão uma caneta de tinta de molhar e ela escorregou-me da mão, borrou a folha, e rebolou pelo chão. Tive de gatinhar debaixo das carteiras para a encontrar.

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A ferida feminina

Segundo a psicoterapeuta Anne Wilson, “Nascer mulher no contexto de uma cultura como a nossa significa que nascemos ‘manchadas’, que existe algo de intrinsecamente errado connosco que nunca pode ser alterado, que os nossos direitos à nascença são logo rotulados de inferiores. Não quero com isto dizer que esta situação se manterá inalterada. Acredito, porém, que temos de ter uma profunda consciência dela antes de podermos modificá-la.”

Claro que ser mulher não é ser inferior, mas isso não altera o facto de as mulheres o vivenciarem dessa forma. Até porque, durante toda a nossa vida, recebemos contínuas mensagens que nos dizem que somos inferiores e que devemos negar as nossas experiências, sentimentos e necessidades. Ao absorver e integrar estas mensagens, estamos a criar e a expandir o núcleo da nossa ferida feminina.

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A mesa dos ricos

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Se nos vissem sentados na nossa mesa de cozinha, feita à mão e toda arranhada, saberiam logo que não somos ricos. Mas o meu pai está a tentar fazer-nos ver que somos.

Será que não vê os meus sapatos gastos? Ou que o meu irmãozinho tem remendos nas calças que leva para a escola? E como explicará ele aquela carrinha a desfazer-se, estacionada à nossa porta?

─ Não consegues enganar-me ─ digo-lhe. ─ Somos pobres. Será que os ricos se sentariam a uma mesa como esta?

A minha mãe, como que acariciando a mesa, diz:

─ Bem, nós somos ricos e sentamo-nos aqui todos os dias.

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A Menina Rumphius

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A Senhora Tremoceiro vive numa pequena casa sobre o mar. No meio das rochas que circundam a casa crescem flores azuis, roxas e cor-de-rosa. A Senhora Tremoceiro é pequenina e tem muita idade. Mas nem sempre foi assim. Sei-o porque ela mo disse. É a minha tia-avó.

Em tempos que já lá vão, ela era uma menina chamada Alice e vivia numa cidade junto ao mar. De lá de cima conseguia ver os cais e os mastros altivos dos grandes navios. Muitos anos antes, o seu avô tinha ido para a América num desses barcos enormes. Continuar a ler

O desabrochar da sabedoria

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Preferia ter rosas na minha mesa que diamantes ao meu pescoço.
Emma Goldman

A minha mãe adora flores. Assim que vem o tempo quente, irão encontrá-la a plantar, a adubar, a regar, a tirar ervas daninhas, a preocupar-se com tudo, desde túlipas a crisântemos. Durante uma série de anos vivemos lado a lado uma da outra, e ela passava tanto tempo no meu jardim como no dela. Em cada verão, depois de os botões ficarem em flor, ela cortava ramos coloridos para alegrar o interior das casas — tanto a dela como a minha. Muitas vezes eu chegava a casa, vinda do trabalho, e encontrava um belo arranjo de flores frescas na minha mesinha do café ou no meu móvel de lavatório da casa de banho.

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O cato

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Sónia está prestes a chorar. A chorar de raiva.
Quer ser ela a decidir, sozinha, se vai ou não a uma festa de aniversário. Decidiu que NÃO VAI a casa de Catarina, mas a mãe insiste que se deve aceitar sempre um convite de aniversário, mais ainda quando o aniversariante é da mesma turma que nós. E quando a mãe do aniversariante é nossa amiga.

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Atendimento personalizado

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 — Desisto! — disse o meu filho mais novo, atirando a enorme chave inglesa para o chão.
— Parece que não escolhi a melhor altura para ver como iam os consertos — disse eu a brincar.

Chris tinha estado a tentar substituir a embraiagem do velho buldózer do pai, que tinha avariado mesmo antes de ele terminar de limpar algumas árvores demasiado grandes do nosso terreno.

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A Leitura Aproxima as Pessoas

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Os bons escritores são aqueles que conseguem colocar os leitores na pele do outro. Creio ser essa a maior virtude da leitura. Ao entrar na pele de diferentes narradores, ao sentir-se parte de outras vidas, o leitor vai-se percebendo também parte da restante Humanidade. Tenho para mim, e atrevo-me a partilhar com vocês esta convicção — ingenuidade, dirão os cínicos —, que os grandes leitores tendem a ser menos inclinados à violência. Primeiro, porque a violência é sempre um recuo do pensamento. Depois, porque a leitura, enquanto exercício de alteridade, aproxima as pessoas.

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Pela literatura os seres humanos reconhecem-se e dialogam.

livro balão 1mm

Vivemos numa época de especialização do conhecimento, causada pelo prodigioso desenvolvimento da ciência e da técnica, e da sua fragmentação em inumeráveis afluentes e compartimentos estanques. A especialização permite aprofundar a exploração e a experimentação, e é o motor do progresso; mas determina também, como consequência negativa, a eliminação daqueles denominadores comuns da cultura graças aos quais os homens e as mulheres podem coexistir, comunicar-se e  sentir-se de algum modo solidários.

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Um outro mundo

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Todos os dias atravessamos a mesma rua ou o mesmo jardim. Todas as tardes os nossos olhos batem no mesmo muro avermelhado, feito de tijolos e tempo urbano.De repente, num dia qualquer, a rua dá para um outro mundo, o jardim acaba de nascer, o muro fatigado se cobre de signos. Nunca os tínhamos visto e agora ficamos espantados por eles serem assim: tanto e tão esmagadoramente reais.

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Responsabilidade

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Era eu uma caloira na faculdade quando conheci os White. Embora fossem completamente diferentes da minha família, senti-me de imediato à vontade com eles. Jane White e eu ficámos amigas na escola, e a família dela recebeu-me a mim, uma estranha, como se eu fosse uma prima há muito desaparecida…

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Azulândia

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Os últimos dias não tinham sido fáceis para o Rei Lívio e para a sua amada esposa, a rainha Olga. Diariamente, chegavam ao palácio notícias de que os encantos do reino começavam a desaparecer a um ritmo alucinante e de forma misteriosa. Primeiro haviam desaparecido as borboletas e as libélulas, logo de seguida, as hortênsias azuis que adornavam as bermas dos caminhos. Não muito depois, os habitantes da Azulândia deixaram de ver, pela manhã, gotas de orvalho. Temia-se que, em pouco tempo, desaparecessem os regatos de água cristalina, as robustas e centenárias árvores, o canto dos pássaros… A catástrofe total seria no dia em que as nuvens, o Sol, a Lua, as estrelas e o arco-íris deixassem de oferecer luz e cor à ilha.

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O Tao da teia

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HÁ ALGUNS ANOS – e posso precisar a data em 1992, não apenas porque registrei o fato em meu diário, mas porque sei que estava convalescendo, num processo de tratamento de uma doença grave que dividiu minha vida em antes e depois – eu estava numa manhã de julho em casa em Manguinhos, sozinha com Luísa, minha filha, então com nove anos. Continuar a ler

Castelos de areia

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Junto a uma serra há uma praia pequenina, de areia macia, onde as crianças gostam de brincar. É ali que se encontram muitas vezes a Rita, o Miguel e o André, três primos cuja melhor brincadeira é construir castelos, ali à beira do mar. Mas são sempre uns senhores castelos!

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A árvore Emily

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 As crianças não te recordarão pelas coisas materiais que lhes proporcionaste,
mas pelos sentimentos que com elas partilhaste.

Gail Sweet 

O dia começou como muitos outros. Eu andava sempre a correr, tentando fazer muito mais do que cabia nas vinte e quatro horas do dia, não dando atenção a ninguém ou a nada. Parecia que os filhos estavam sempre a ensarilhar-se nos meus pés e, aos quatro anos e aos dezoito meses de idade, claro que estavam, outra coisa não seria de esperar.

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A professora Mary põe toda a gente a ler

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Na primeira semana de aulas, a nossa professora anunciou que iríamos aderir a um programa especial de leitura no decorrer do ano letivo. Como a professora Mary acha que a leitura é a melhor atividade a que nos podemos dedicar, prometeu encontrar um livro adequado para cada um de nós.
A nossa escola tem de ler 1000 livros até 12 de junho.
Mr. Wiggins, o diretor, até prometeu tingir o cabelo de púrpura e dormir no telhado da escola se conseguíssemos ler esses livros todos.
Mas eu tenho um pequeno problema…
DETESTO LER.

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O mercador de tecidos

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Levanta-se antes do nascer do sol, coloca a chaleira ao lume e prepara o chá. Come uma taça de arroz que tenha sobrado da véspera, toma banho, arruma a casa e veste-se. Sobre o ombro esquerdo os anilados, sobre o direito, os tecidos cor da terra. Num saco de pano carrega todos os outros que sobram.

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A Senhora dos livros

livro daniela-zekina mA minha família e eu vivemos num sítio pertinho do céu. A nossa casa fica situada num local tão alto que quase nunca vemos ninguém, a não ser falcões a planar e animais a esconder-se por entre as árvores.
Chamo-me Cal e não sou nem o mais velho nem o mais novo dos irmãos. Mas, como sou o rapaz mais velho, ajudo o meu pai a lavrar e a ir buscar as ovelhas quando, às vezes, elas se escapam. Também me acontece trazer a vaca para casa ao pôr-do-sol, e ainda bem que o faço. É que a minha irmã Lark passa o dia todo a ler. Continuar a ler

A estrela partida

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Valores: solidariedade

A estrela Brilhantina estava muito triste porque tinha perdido uma das cinco pontas, não sabia nem onde nem como. Na noite anterior tinha saído com as outras estrelas, como sempre fazia, mas porque estava muito cansada, adormeceu. Ao acordar, viu que lhe faltava uma das pontas e, de imediato, procurou-a por todo o céu, mas não a encontrou. Continuar a ler

A semente e os frutos

anne sophie 2015 m

A literatura para crianças é como uma semente de palmeira que, há mais de seis meses, um africano me vendeu, ali, para os lados do Martim Moniz. Num cesto pequenino tinha dez sementes ovais, duras, quase esquecidas. Era o seu negócio, tudo o que possuía, possivelmente o que lhe restava do seu país de sol e florestas onde talvez não regresse mais. Afagava as sementes, tocava-lhes e garantia:

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Shirley Ann Eales

The Jungle Book by Christian Schloe livro m

Na vitrina lê-se Livros Raros
e Usados sob o azul inclinado
de um toldo – mesmo em frente
à glacial cafetaria de franchise
onde o dia destrata o desejo
e não se pode fumar. Subo
aos pequenos gabinetes
mergulhados no doce bafio
da literatura e percorro de A
a Z as espinhas estreitas

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Os livros

Odinet, Nicolas livro m

Os livros. A sua cálida,
terna, serena pele. Amorosa
companhia. Dispostos sempre
a partilhar o sol
das suas águas. Tão dóceis,
tão calados, tão leais,
tão luminosos na sua
branca e vegetal e cerrada
melancolia. Amados
como nenhuns outros companheiros
da alma. Tão musicais
no fluvial e transbordante
ardor de cada dia.

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Três portas principais

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Ler e imaginar são duas das três portas principais — a curiosidade é a terceira — por onde se acede ao conhecimento das coisas.

Sem antes ter aberto de par em par as portas da imaginação, da curiosidade e da leitura — não esqueçamos que quem diz leitura diz estudo—, não se vai muito longe na compreensão do mundo e de si mesmo.

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Ler e imaginar

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Ler também é uma fuga do aqui e do agora.

Abra a primeira página de um livro e estará frente a um mundo diferente do seu.

Este efeito é semelhante ao que acontece no cinema ou na televisão, mas com a leitura é mais emocional e pessoal.

Você relaciona-se com a narrativa tão de perto que quem recria as cenas e as personagens é você mesmo, usando a sua imaginação.

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O livro que só queria ser lido

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Era uma vez um livro triste. E não era triste pelo que contava nas suas páginas e ilustrações, mas sim porque tinha um desejo imenso de ser lido e muito poucas pessoas pareciam ter vontade de o ler. Por isso, era um livro triste, e não se envergonhava de o ser, perguntando mesmo com frequência:

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O contador de histórias

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Yacoub era pobre, mas despreocupado e feliz, livre como um sal­timbanco, sonhando sempre cada vez mais alto. Em boa verdade, estava apaixonado pelo mundo. Porém, o mundo à sua volta parecia-lhe sombrio, brutal, seco de coração, de alma obscura, e sofria com isso.

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O caminho para a verdade

Retidão

Adotar o princípio de mentir sempre que convém atrai a desconfiança dos demais e leva à solidão. Quem engana acabará por ser enganado, porque quem semeia joio não pode colher trigo. Nada é mais importante do que uma consciência tranquila, embora o caminho da verdade nem sempre seja fácil.

O caminho para a verdade

A chuva que caía há dias parara finalmente nessa tarde. Um suspiro de alívio percorreu a turma toda. Os rapazes sabiam agora que o jogo de futebol, há tanto tempo ansiosamente esperado, poderia ter lugar e já não seria cancelado por causa do mau tempo. Continuar a ler

A fita vermelha

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Coerência

Aqueles que prometem e não cumprem, que são uma coisa nas palavras e outra nos atos, aqueles que mudam de acordo com as conveniências do momento, acabam por transformar a sua vida numa farsa, da qual não sairão incólumes.

A fita vermelha

Eu tinha começado a ensinar. Era muito nova então. Quase tão nova como as meninas que eu ensinava. E tive um grande desgosto. Se recordar tudo quanto tenho vivido (já há mais de vinte anos que ensino), sei que foi o maior desgosto da minha vida de professora. Vida que muitas alegrias me tem dado. Mais alegrias do que tristezas. Continuar a ler

A sombra

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Justiça

Existem graves situações de injustiça social, criadas por aqueles que não têm escrúpulos em enriquecer à custa da pobreza de muitos. Quando se trata de dinheiro, os homens facilmente esquecem os seus princípios morais, embora gostem de exibir em público uma imagem de respeitabilidade.

A Sombra

Nos países tropicais o sol queima de uma forma terrível! As pessoas ficam trigueiras como o acaju e até escuras como os negros. Continuar a ler

O tesouro de Clara

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Obediência

A vontade de se evidenciar foi sempre muito forte nos adolescentes, que se divertem com o perigo e com a transgressão. De lamentar que não se lembrem de que, para muitos, isso levou à doença e à morte. A atitude de desobediência face às orientações dos professores costuma ter como resultado a falta de aproveitamento e consequente ignorância. O que é igual a um futuro sem perspetivas.

O tesouro de Clara

Clara vive no Brasil.

Não possui quase nada. Tem pele de âmbar e cabelos pretos. Veste uma t-shirt grande e, nos pés, traz sandálias de borracha, faça chuva ou sol. Continuar a ler

Um gato debaixo do pinheiro de Natal

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Compaixão

As pessoas têm tendência para se alhear dos sofrimentos dos outros ou para os minimizar. Aqueles que vivem sem dificuldades esquecem que há pessoas em situação de grande pobreza, e aqueles que têm saúde não apoiam os que estão doentes. É necessário aprender-se a sentir compaixão.

Um gato debaixo do pinheiro de Natal

Porque a vida habitava nela, a possuía, a menina reconhecia a morte inscrita no reverso de qualquer momento de felicidade, de qualquer instante feliz. Brincava no cemitério como se fosse um jardim. Continuar a ler

A cor dos olhos

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Fortaleza

A vida tem reviravoltas súbitas e as dificuldades surgem quando menos se espera. Mas é um erro responder com agressividade ou cair no desânimo. A atitude correcta é procurar compreender o sentido dessas dificuldades e não se deixar intimidar por elas.

A cor dos olhos

Naquele tempo, que não era como o tempo de hoje, os leões já tinham quatro patas mas, tal como os elefantes, não podiam meter-se por dois caminhos ao mesmo tempo! Continuar a ler

As palavras cor-de-rosa e as palavras cinzentas

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Delicadeza

A falta de compostura e as liberdades de linguagem tomaram o lugar da correção e da delicadeza, que ainda prevaleciam há algum tempo atrás. A mentalidade permissiva que tem vindo a instalar-se, a par de um falso conceito de liberdade, tem criado situações de grave confusão, das quais os mais jovens são as principais vítimas.

As palavras cor-de-rosa e as palavras cinzentas

Um dia, sem se saber muito bem porquê, tudo aconteceu de repente: as palavras cor-de-rosa desapareceram do planeta. O que são palavras cor-de-rosa? São palavras delicadas, como Obrigado, Faça favor, Se não se importa, És tão importante para mim. Palavras tão doces que são como mel no coração. Continuar a ler

A pena pesada

Coragem

É um sinal de coragem ser-se capaz de enfrentar os obstáculos com serenidade e de se adaptar às circunstâncias, que, ainda que desfavoráveis, são sempre oportunidades de amadurecimento. É, em contrapartida, um sinal de cobardia maltratar os mais fracos.

A pena pesada

Kassa Kena Gananina foi antigamente o herói mais poderoso, mais temido e mais amado do povo mandinga. Um só volteio da sua arma podia matar vinte antílopes. Um só rasgo de cólera nos olhos assustava tanto as flechas inimigas que todas caíam a seus pés como para lhe pedirem compaixão. Kassa Kena Gananina era, em verdade, «aquele a quem nada podia vencer». Era assim que lhe chamavam, tanto entre os homens como entre os animais da terra e os espíritos celestes. Continuar a ler

Marco brinca ao Bug’s Bunny

Prudência

A precipitação pode dar maus resultados. É sempre preferível pensar antes de agir, de contrário, há fortes probabilidades de se vir a lamentar as consequências de certos actos que, depois de praticados, deixam marcas que não se podem apagar.

Marco brinca ao Bug’s Bunny

Os pais do José não têm televisão. Porém, há certos programas que ele não gostaria de perder. Por isso, duas ou três vezes por semana, lá se senta ele frente à televisão, em casa de Marco, o amigo que mora no prédio defronte. A mãe de Marco, a Sr.ª Carolina, não tem nada contra as visitas de José. É um rapazinho calmo, poder-se-ia dizer, ao vê-lo ali sentado em frente ao aparelho, com o rosto delgado e sério e as mãos sobre os joelhos irregulares. Continuar a ler

Como posso ajudar?

Discrição

Nos dias de hoje, é comum pensar-se que aqueles que são famosos têm mais valor do que a generalidade das pessoas. Mas tudo não passa de ilusão. Aqueles que têm verdadeiro valor não são os que se evidenciam em programas medíocres ou em espectáculos desportivos alienantes, mas os que se esforçam, de um modo muitas vezes anónimo, por tornar melhor o mundo em que vivem.

Como posso ajudar?

Quando isto aconteceu, Rom Dass era um jovem americano de visita ao Japão. Praticava Aikido, uma arte marcial japonesa. Sentia-se orgulhoso das suas capacidades e estava ansioso por pô-las em prática. Continuar a ler

Laura Flor

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Solidariedade

A ausência de diálogo leva à solidão. Muitas pessoas deprimidas acabaram no suicídio por não terem encontrado ninguém capaz de se interessar pelos seus problemas e de lhes incutir alguma esperança. O egoísmo, associado à mecanicidade do dia a dia, não permite a atenção ao outro, o gesto de delicadeza, a palavra que encoraja, a manifestação de afecto. Mas, sem isso, a vida torna-se árida.

Laura Flor

— Laura Flor, vem cá!

A Laura veio e era como uma flor. Delicada e suave flor igual ao nome. Continuar a ler

Apenas um rapaz

Responsabilidade

É de lamentar a falta de sentido de responsabilidade de muitos jovens, que alegam o direito à liberdade, sem perceberem que esta se torna um conceito vazio quando não é acompanhada por uma atitude atenta e responsável. Aqueles que, no exercício da sua liberdade, não respeitam os direitos dos outros dificilmente poderão viver em sociedade, sem atrair para as suas vidas problemas de toda a índole.

Apenas um rapaz

Era uma vez um rapaz bravio que gostava de pregar partidas e fazer matulices, só por embirração. Era muito antipático este rapaz.

Mas emendou-se. Eu conto como foi. Continuar a ler

Quase me bateu

Paciência

A cólera obscurece a mente e impede o raciocínio. Cria situações insustentáveis, das quais todos saem prejudicados. A paciência é uma virtude fundamental, que se deve pôr em prática diariamente, porque as contrariedades são inevitáveis e é um erro perder-se a compostura por causa delas.

Quase me bateu

Esta história começa em 1947. Era um belo dia de Primavera e encontrava-me na Florida a lavrar um campo para um amigo. Fora objector de consciência durante a Segunda Guerra Mundial e estava muito feliz por voltar a casa e ao trabalho do campo, a que já me dedicava antes da guerra. Continuar a ler

A pedra no caminho

Perseverança

Há capacidades que ficam por desenvolver devido à falta de perseverança. Os verdadeiros sucessos são feitos de esforços, de desilusões, de novas tentativas e, por vezes, de muitos sacrifícios. Se as diversões forem colocadas em primeiro lugar, é provável que os frutos a colher se tornem bastante amargos.

A pedra no caminho

Conta-se a lenda de um rei que viveu há muitos anos num país para lá dos mares. Era muito sábio e não poupava esforços para inculcar bons hábitos nos seus súbditos. Frequentemente, fazia coisas que pareciam estranhas e inúteis; mas tudo se destinava a ensinar o povo a ser trabalhador e prudente. Continuar a ler

A árvore que falava

Determinação

Sempre que se tem um objectivo a alcançar, deve-se ter também a força de vontade necessária para se levar a cabo o que é pretendido. A tentação de desistir é grande, sobretudo quando os obstáculos começam a surgir. Mas estes também têm a sua utilidade, porque ajudam a crescer interiormente.

A árvore que falava

Longe, muito longe… bem no coração da savana, vivia uma árvore maior e mais velha do que qualquer outra. Continuar a ler

Chico

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Diligência

É bom pensar-se de vez em quando nas muitas crianças e adolescentes de todo o mundo que não podem ir à escola. Talvez assim se venha a dar mais valor ao privilégio que é poder-se estudar, descobrir coisas novas sobre a realidade e crescer intelectual e emocionalmente. A ignorância é caminho para a miséria. Aqueles que nada querem aprender tornam-se presas fáceis de uma sociedade materialista, que ilude e explora, em vez de ajudar a crescer.

Chico

 Chico vive numa aldeia perdida num dos muitos países de África. Podia ser em Angola, no Senegal ou no Ruanda. Podia chamar- se Chico, Abuabar ou N’gouda. Há muitos Chicos em África. Chicos de olhos brilhantes e pés descalços, com a cabeça povoada de sonhos, com vontade de ter um futuro para viver. Continuar a ler

Ana e a galinha pedrês

Honestidade

A honestidade é encarada como um obstáculo por aqueles que querem subir na vida e não olham a meios para atingir os seus fins. Surdos à voz da consciência, caminham deixando atrás de si um rasto de sofrimento e de revolta, até se verem, por fim, num beco sem saída.

Ana e a galinha pedrês

Esta história passou-se na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial. A comida era escassa. As pessoas, sobretudo as crianças, alimentavam-se mal e andavam sempre esfomeadas. Continuar a ler

Um presente de arromba

Simplicidade

Aqueles que gostam de se enaltecer atraem a inveja dos demais e acabam sozinhos. Quem tem verdadeiro valor é discreto e simples, trata os outros com afabilidade e não procura ser o centro das atenções. É um sinal de imaturidade a atitude exibicionista de tantos jovens, que gostam de se fazer notar pelos piores motivos: a indisciplina, a ignorância e a grosseria. Muitos acabam na marginalidade.

Um presente de arromba

Foi cinco dias depois dos meus anos. Tinha dezassete anos e cinco dias. Era terça-feira, 25 de Novembro. Chovia. Apanhei o autocarro porque chovia muito quando saí da escola. Só havia um lugar vago. Sentei-me e tentei afastar a nuca da gola, que ficara encharcada enquanto esperava na paragem do autocarro, e parecia a mão gelada da morte. Sentei-me e senti-me culpado por ter apanhado o autocarro. Continuar a ler

A casa que o amor construiu

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Generosidade

O gesto de dar nem sempre é espontâneo. Os primeiros impulsos costumam ser egoístas e necessitam, por isso, de ser contrariados. A atenção aos outros ajuda ao desabrochar da virtude da generosidade. Em contrapartida, a presunção fecha a pessoa em si própria e torna-a insensível às necessidades daqueles que a rodeiam. O instinto de tudo guardar para si é contrário à vida em sociedade e causa de sofrimentos e privações.

A casa que o amor construiu

Esta história é verdadeira. Passou-se em França depois da Primeira Guerra Mundial, durante a qual uma aldeia inteira foi destruída pelos combates. Continuar a ler